Dezesseis, A Estrada da Morte (Prólogo e Part1) – Simone Pesci
Como eu já terminei de ler o livro Dezesseis, pedi pra Simone dar a vocês um pouquinho do gostinho de Johnny.. vamos surta com essa pequena amostra que essa querida e belíssima escritora nos forneceu ..
Copyright
©2015 – Todos os direitos reservados
Produção
Editorial: Simone Pesci
Capa: Décio
Gomes
Diagramação:
Gisele G. Garcia
Revisão: Angie
Stanley
Editora:
Tribo das Letras
ISBN:
978-85-5560-010-4
Nenhuma
parte deste livro poderá ser reproduzida, transmitida e
gravada,
por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros,
sem a
prévia autorização, por escrito, da Autora.
PRÓLOGO
Eu fechei meus olhos e pisei fundo no acelerador,
fazendo o ronco do motor do meu Opala
azul metálico ressoar como um cântico encantador aos ouvidos de qualquer
apaixonado por aquele barulho ensurdecedor. E, ainda de olhos fechados,
respirei fundo. Como em um filme, tive alguns flashes de tudo que vivenciei
nesses meus dezesseis anos... Minhas travessuras, ainda quando criança, ao lado
da minha família amada; meus momentos de loucuras junto aos meus amigos, sempre
regado a muita bebida e a muitos cigarros de maconha. Porém, era ela —Ana Cláudia— a minha maior e melhor recordação.
Foi por ela, aquela que eu considerava minha
salvação e minha perdição, que estava prestes a seguir rumo à estrada da morte,
também conhecida como “curva do diabo”.
Uma curva na qual muitas vidas foram perdidas. Uma curva que, certamente, seria
a salvação de qualquer mortal que estivesse prestes a desistir da vida.
Ainda acelerando meu Opala, respirei fundo e abri
meus olhos. Logo, olhei para o lado oposto da estrada, e, dessa forma, o
avistei... Samuel Garcia, conhecido por todos como “Samy”. Aquele era o cara que acabou com os meus sonhos e tirou de
mim o mais lindo e real sentimento que já nutri por alguém. Ele roubou minha
doce e amada Ana, aquela que me fez sentir vivo e amado por longos e
inesquecíveis meses, e que, em muitos momentos, enlouqueceu-me a ponto de
pensar em sumir, levando-a como minha refém.
Sentia o olhar vulcânico de Samy em minha direção,
e também percebi que ele acelerava o carro tanto quanto eu, fazendo o ressoar
do seu, também Opala—porém, na cor preta metálica— tão ensurdecedor quanto o meu.
Sempre fui considerado o rei dos rachas e, de certa
forma, me orgulhava por ser intitulado dessa maneira. Era como se a patente
fosse exclusivamente minha, e, por tal motivo, nunca deixei que ninguém me
vencesse em disputa alguma, pois essa era minha vida. Entretanto, estar naquela
situação era aterrorizante e libertador.
— Johnny... Não! — escutei a
doce voz que eu tanto amava soprar as palavras em meu ouvido.
E,
ainda olhando a pequena e fiel multidão que sempre acompanhava esses
acontecimentos, segui rumo à curva do diabo.
(...) e os
motores saíram ligados a mil, pra estrada da morte, e aquele foi o maior pega
que existiu.
1
FELIZ DEZESSEIS
FELIZ DEZESSEIS
“Vamos lá, tudo bem, eu só quero me divertir...
Esquecer dessa noite, ter um lugar legal pra ir...”
(Trecho da canção: Teatro dos Vampiros – Legião Urbana)
Esquecer dessa noite, ter um lugar legal pra ir...”
(Trecho da canção: Teatro dos Vampiros – Legião Urbana)
•Adrenalina—
hormônio produzido pelas glândulas suprarrenais,
cuja secreção é aumentada em situações de estresse, ansiedade, perigo ou
qualquer outra que deixe o corpo em estado de alerta e pronto para reagir.
• Compulsão—
ato ou efeito de compelir; descontrole; realização
de atividades sem premeditação e sem consciência das consequências; tendência à
repetição; ação judiciária que obriga o indivíduo a comparecer em juízo.
• Objetivo— diz respeito a um fim que se quer atingir, e nesse
sentido é sinônimo de “alvo” tanto como fim a atingir, quanto ponto de mira de
uma arma ou projétil.
Eu me chamo João Roberto de Macedo, e considero-me
um “adrenálico compulsivo objetivo”. Sou conhecido por todos como Johnny, O Rei
dos Pegas, e estava prestes a completar dezesseis. Na maioria das vezes, me
encontrava ao lado de meus loucos amigos: Julius, César, Janjão, Trakinas, e,
por fim, Vicky. Mas, a partir de agora,
vou relatar onde a minha vida começou a fazer sentido...
Era uma noite como tantas outras, regada a inúmeras
doses de vodca e muitas tragadas no cigarro de maconha, e o motivo de toda
comemoração se dava ao fato de eu completar mais um ano de vida. Como de
costume, aquela seria outra noite de loucuras incontidas, finalizada com um
grande espetáculo de automotores, em uma estrada próxima à lanchonete que
sempre frequentávamos.
Eu não entendia como um bairro como o nosso —
em Brasília, ou seja, na capital federal do Brasil — pudesse ter tantos nomes comerciais
americanizados, e só me conformava com isso porque meu apelido, de certa forma,
também o era. De fato, amava o apelido que ganhara desde os meus onze anos,
logo após adquirir como herança do meu pai uma de suas preciosidades: o “Opala azul metálico”.
Lembrava-me de todo final de semana, quando meu pai
se dedicava integralmente com amor pela máquina da qual eu sonhava um dia me
pertencer, e que, agora, era minha maior e melhor preciosidade — e, assim como ele, também me devotava com carinho
ao Opala, ao qual batizara como “Trovão”.
Também foi deixado de herança para minha mãe —Lourdes Maria Macedo, mais conhecida por todos como
Dona Lourdes — algumas notas promissórias para serem quitadas,
que teve como consequência a venda da nossa casa, fazendo com que fôssemos
morar em uma residência menor, porém, ainda confortável.
Agora éramos uma família de dois, e muitas coisas
haviam mudado. Encaixávamo-nos na classe média baixa. Com muito sacrifício,
empurrávamos a vida com a barriga. Minha mãe costurava dia e noite, o que nos
rendia o sustento maior da casa. Eu, por outro lado, estava no segundo ano do
ensino médio, do qual pouco frequentava, ainda no período da manhã.
Eu ajudava mamãe financeiramente, pois trabalhava
no período da tarde na oficina mecânica do senhor “João”. Com isso, conseguia
alguns trocados para o sustento da casa e, também, para minha diversão.
Contudo, onde lucrava uma grana maior, era no que eu sabia fazer de melhor...
Nos famosos “pegas”, ou seja, nos rachas de carros. Por fim, eles me rendiam
uma ótima grana, e, assim, seguia minha existência, muitas das vezes
considerada como a vida de um “rebelde sem causa”.
— Johnny... Acorda! — Vicky
gritou bem próximo ao meu ouvido.
Se havia uma coisa que me deixava louco da vida,
era a falta de discernimento — e Vicky, com seu jeito despojado, sem noção e afoito, era uma garota
que sabia me tirar do sério em questão de segundos.
Aquela erauma
situação um tanto quanto estranha, pois Julius —meu melhor amigo —gostava de Vicky— meu affair problemático — que era apaixonada por mim — e eu, na verdade, nunca gostara de ninguém para valer.
Eu respeitava Vicky. De certa forma, me sentia bem ao
seu lado. Na verdade, o que eu levava em conta eram as nossas loucas e tórridas
transas, pois o sexo com ela chegava a ser sadomaso e surreal, deixando-me, por
alguns momentos, a questionar: Como ela
adquiriu tanta experiência com apenas dezessete anos?
— Johnny, você está surdo? — berrouVicky, mais uma vez.
Respirei fundo para não responder grosseiramente, e
meus amigos perceberam meu fio de paciência se esvaindo pelos ares.
— Eu não sou surdo, Vicky! — tentei ser educado, apesar da minha falta de paciência.
— Não é o que parece! Aliás, em que mundo você está?
— rebateu, ainda aos berros.
Naquele momento, fechei meus olhos e clamei a Deus
por sabedoria, para que, dessa forma, eu conseguisse tolerar sua falta de
contenção nas palavras. Afinal de contas, ela se nomeava como minha garota. No entanto, eu a
considerava como uma amizade mais que colorida.
—Brow, vamos nessa! Está rolando uma festa lá na colina,
e nada melhor que aproveitá-la para comemorar seu aniversário... — Janjão anunciou qual seria o nosso roteiro.
Levantamos os seis em disparada, pois já havíamos
pagado a conta da lanchonete. Então, entramos em meu Trovão. Logo, seguimos
para a colina, que nem de longe chegava a ser um outeiro, mas, apenas, um
grande terreno baldio abandonado onde aconteciam muitas festas proibidas,
regadas a diferenciadas doses de bebidas alcoólicas e drogas... Desde as mais
leves até as mais pesadas.
Minha turma — mais conhecida como Gangue TP, ou seja, Gangue The
Puritans— foi presenteada com esse nome como uma afronta à sociedade (e, também,
contra nossa cidade), que era repleta de falsos puritanos. Pensávamos como
poucos, e diferente de muitos! Nós não concordávamos com a proibição de um pega
no cigarro de maconha, pois tínhamos esse hábito quase que corriqueiramente.
Também nos indagávamos sobre política, músicas, filmes, mulheres e diversão.
Tínhamos nossa maneira de refletir sobre muitos assuntos, e, muitas vezes,
discordávamos de tudo. Obviamente, três coisas nós seguíamos à risca:
Primeiro: Venceríamos todos os rachas.
Segundo: Não usaríamos nada mais que bebidas e
maconha.
E, por fim, terceiro: Estaríamos lado a lado, fosse
em qualquer
circunstância que a vida nos apresentasse.
circunstância que a vida nos apresentasse.
— Chegamos, seus nóias! —Trakinas
falou superanimado.
Trakinas era o segundo mais sem noção da turma,
entregando a medalha de ouro para Janjão! Ele bebia e fumava demais da conta,
deixando-nos sempre com a cara no chão, fazendo suas brincadeiras que, na
maioria das vezes, eram motivos de piada do grupo. E o grande acontecimento
baseava-se em seu desastroso show de strip-tease
um tanto assustador —diga-se de passagem— pois ele sempre deixava à mostra seu físico acima
do peso e, normalmente, vomitava sem pudor algum, não se importando com quem estivesse
ao seu lado.
—Uhuuu! Isso aqui está pegando fogo... —
exclamou Vicky, olhando a multidão que dançava um techno ensurdecedor.
Aquele era um estilo de música que eu pouco curtia,
pois preferia ficar mais no meu estilo Classic
Rock, o qual sempre apreciei ao lado do meu pai, desde criança.
— Vou curtir a noite, já que você está aí, com essa
cara de merda! —provocou-meVicky.
Eu apenas fitei-a com desaprovação. Mesmo me
sentindo maluco de raiva com sua atitude infantil, ansiava por estar com ela ao
meu lado assim que o relógio apontasse para um novo dia, presenteando-me com
mais um ano de vida.
—Brow, você não tem a mesma paciência de antes com
ela... – comentou Julius.
Assenti com a cabeça, dando-lhe a entender que o
que acabara de dizer fazia sentido, deixando-o ainda mais animado com o
caminhar de minha relação conturbada. Victória —mais conhecida como Vicky— era uma garota de dezessete anos, com um corpo
escultural, cabelos encaracolados tingidos de loiro, e grandes olhos castanhos.
Era filha única e morava com sua avó, pois seus pais haviam falecido em um
acidente de carro, ainda na sua infância — e não
saberia por qual motivo ela sempre nos acompanhava, acabando por fazer
parte de nossa turma.
— Você realmente não gosta dela? — perguntou Julius,
ansiando pela verdade.
Tentando ser correto e sem querer magoá-lo, pois
ele era o meu melhor amigo, esquematizei uma reposta, sem rodeios. O certo
seria dizer o quanto eu gostava de curtir a noitada ao lado de Vicky— e, também, quão adorava o sexo selvagem e
prazeroso que ela me proporcionava.
—Brow, sempre deixei bem claro o que sinto pela Vicky!
Gosto de estar ao lado dela, mas é apenas isso. —respondi, encarando-o de soslaio.
Julius seguia Vicky com o olhar, e ela sequer se dava conta de sua admiração. E assim
continuou, com sua garrafa de cerveja em mãos, dançando sensualmente no
meio da galera. De fato, ela agia daquela maneira para me provocar. No entanto,
só conseguiu me chatear.
— Sabe, Brow,
eu ainda espero encontrar aquela garota que me faça perder o fôlego! —comentei,
no momento em que percebi Vicky se esfregando em um cara ridiculamente vestido
como se estivesse no Hawaii.
Julius encarou-me, um tanto quanto esperançoso, e
disse:
— E eu só espero um dia perder o fôlego com essa que
tanto gosta de você! —provocou-me, dando-me um soco de leve no braço.
Vicky já passara dos limites naquele requebrado,
que se parecia muito com a dança do
acasalamento, e eu não queria pagar mais mico no meio da galera. Foi então
que segui em sua direção, e, desastrosamente, segurei-a pelo braço,
resmungando:
— Acho melhor você vir comigo! —arrastei-a para o outro canto, encarando o modelo
do Hawaii.
Vicky arregalou os olhos, orgulhosa por ter
conseguido o que queria: tirar-me do sério na frente de todos, e fazer com que
acreditassem que eu era apaixonado por ela.
— Satisfeita? —perguntei, encarando-a.
— Não tanto quanto eu esperava... — ela contra-atacou.
—Opaaa,
acho que vou me juntar ao resto do pessoal, próximo
à fogueira. — Julius afastou-se, com o semblante feliz.
Eu a fitava com atenção e curiosidade, sempre me
questionando o motivo de não conseguir me apaixonar por ela. Desde que a
avistei pela primeira vez, não senti nada mais que tesão. Com o tempo, adquiri
certo apego por sua pessoa, porém, ao conversarmos, percebia que não tínhamos
quase nada em comum. Era uma garota legal, com ideias um tanto quanto loucas e,
também, superdivertida. Na verdade, era o tipo de menina que qualquer cara
gostaria de ter ao seu lado. Porém, esse cara não era eu.
— Nós já estamos há quase um ano juntos e você ainda
não disse que me “ama”! —questionou-me.
—Vicky, que papo é esse? —indaguei, fingindo não compreender seus argumentos.
Após minha resposta vaga, ela enfureceu-se ainda
mais, e, em questão de segundos, enfatizou:
— É disso
que estou falando, Johnny! Você não gosta de mim como eu gosto de você... Está
na cara. —fitou-me,
aguardando pela declaração de amor.
Realmente, a recíproca não era verdadeira, e sempre
deixei isso bem claro. No entanto, não queria estragar aquela noite, e muito
menos magoar o seu coração.
— Eu gosto de você, de ficar com você... É isso! —tentei ser o mais natural possível com as palavras.
— Que horror, Johnny...
Isso está parecendo mais com o refrão dos Tribalistas. —
rebateu, ainda mais
agressiva. — Seu
insensível... Vá para o inferno! —murmurou, jogando-me na cara o que restara de sua bebida, rumando, em
seguida, em direção à multidão.
—Merrrrrda!—bradei irritado.
O sangue subiu em minha cabeça, e minha vontade era
de fazer o mesmo com ela, jogar o resto da minha bebida em seu rosto. Mas eu
sabia que aquele não seria o modo certo de agir, pois, de certa forma, havia
magoado-a com minha verdade — e isso me entristecia.
Diversas vezes, quando brigávamos, me sentia
triste, pois era visível o quanto Vicky esperava de mim, e também era notável o
quanto eu não me importava com ela. Em muitas de nossas discussões, tentava
colocar o ponto final na relação que ela mesma criara em sua fértil imaginação.
No entanto, tudo acabava em sexo, no meu quarto, ou dentro do Trovão.
Entrei no meu carro e abri o porta-luvas, em busca
de uma pequena toalha. Logo, enxuguei meu rosto, e, instantaneamente,
deparei-me com uma garrafa de vodca da noite passada, já pela metade, no banco
de trás do carro. Dessa forma, minutos depois, encostei-me em meu Trovão, dando
longos goles no destilado.
— Hei, cara, vamos pra perto da fogueira... Tem
algumas gatas novas por lá! —sugeriu César, tentando me acalmar.
—Opaaa, dá um tempo só para eu colocar a cabeça no lugar! —respondi, fitando o nada.
— Johnny... Hoje não teremos pega, fomos informados
que a estrada está sendo vigiada! —alertou-me César, seguindo, instantes depois, em direção à fogueira.
Eu precisava de alguns minutos sozinho. Estava
nervoso e chateado ao relembrar o mico de minutos atrás, ao lado de Vicky,
dando um espetáculo à parte, me deixando com cara de tacho. A última pessoa que
eu queria ao meu lado, naquele momento, era ela.
Era estranho pensar em como deixei tudo chegar
àquele ponto. Afinal de contas, se eu não gostava o suficiente dela... O que ainda estava fazendo ao seu lado?
Essa era uma questão que me deixava impaciente. Eu me sentia um tanto quanto
estranho, pois era o “menor maioral”, desejado por muitas garotas, que, em
questão de minutos, completaria mais um ano de vida — e, ainda assim, continuaria sendo “o menor
maioral”.
Ainda encostado no Trovão, cerrei as pálpebras e
respirei fundo. Na verdade, estava feliz por não ter nenhum pega, pois não
seria uma boa ideia. Minha cabeça rodopiava pela grande quantidade de cerveja e
vodca que havia ingerido. Foi quando, ainda de olhos fechados, escutei um
acorde de guitarra, seguido de um leve toque de piano — e não sei por qual razão, abri os olhos. Ao som
daquela canção que tanto amava, da banda INXS,
avistei-a.
—Beautiful
Girl... StayWhit Me! —e se fez ouvir o refrão da canção no instante que dei de cara com um
anjo.
Estonteantemente linda em seu jeans surrado e seu
suéter rosa... Deparei-me com aquela que me fez perder o fôlego. Um anjo de
pele branca como a neve, olhos castanhos escuros, lábios delicados e finos, e
cabelos compridos e lisos, também na cor castanho, um pouco abaixo dos ombros —e a banda INXS ainda era pano de fundo daquela deliciosa visão.
Eu pisei em ovos naquele momento, e meu coração
acelerou de maneira irreal. Era impossível tirar os olhos daquela linda garota
que estava a minha frente. Dessa forma,em questão de segundos, larguei a
garrafa de vodca já vazia no chão, seguindo em passos curtos na direção do anjo.
— Aonde você pensa que vai? — Julius barrou-me, impedindo que eu alcançasse o
anjo.
— Eu perdi o fôlego! —falei as palavras, fitando-a bem próxima de mim.
Tudo rodopiava confusamente, sempre focando na
direção do anjo. A música ainda tocava em alto e bom som, e por alguns
segundos, pensei o quanto aquela canção era perfeita para ocasião. Eu havia
sido premiado com aquela visão divina, que, por sinal, estava tão perplexa
quanto eu, também me encarando confusamente.
— Hei, Brow...
Não é uma boa ideia! Acho que a garota está acompanhada. —alertou-me Julius.
Foi então que me dei conta do que estava prestes a
fazer. Assim como Vicky, também agiria por impulso. Agora, mais do que nunca,
entendia a maneira que Vicky se comportava comigo — por esse motivo, tentaria não recriminá-la mais.
Momentos depois, deparei-me com um cara puxando o
anjo pelo braço. No mesmo instante, notei que o conhecia de algum lugar, porém,
não me recordava de onde. De fato, saber quem era o mané era o que menos
importava, pois só tinha olhos para aquela bela visão.
—Brow... Acho melhor zarparmos daqui. —disse Julius, um tanto quanto preocupado.
Fitei Julius, para, logo depois, procurar pelo
anjo. No entanto, minha tentativa de encontrá-la foi em vão...
— Espero que não se importe que eu volte dirigindo,
pois acho que você não está em condições! Vou chamar o pessoal... Isso inclui a
Vicky também. —alertou-me do que estava prestes a fazer, colocando-me, em seguida, no
banco de trás do Trovão.
E a música terminou, dando vez a um som atual sem
sentido. Depois disso, nada mais vi! Apenas senti alguns tapas, um tanto quanto
indelicados, sobre meu rosto e meus braços. Então, uma voz se fez ouvir:
— Feliz
Dezesseis!
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