Entre o Céu e o Inferno (Part3) — Simone Pesci
última parte da amostra ..
Copyright ©2014 – Todos os direitos reservados
Produção Editorial: Simone Pesci
Capa: Adriana Brazil
Diagramação: Gisele G. Garcia
Revisão: Zidna Nunes
ISBN: 978-85-917319-0-9
Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, transmitida e
gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros,
sem a prévia autorização, por escrito, da Autora.
3
DE VOLTA AO
INFERNO
“Mestre das marionetes, eu controlo
suas cordas;
Retorcendo sua mente e esmagando seus
sonhos.”
(Metallica – Master OfPuppets)
Com o ar galanteador e sexy, Juan caminhou
até o bar no canto da sala, sempre me olhando de esguelha com certa
curiosidade. Eu me encontrava um tanto desconcertadae preocupada com o homem
misterioso, gentil e ao mesmo tempo arrogante que estava à minha frente, porém,
pude admirar sua beleza, seus braços fortes e torneados e seucorpo de dar
inveja a qualquer PersonalTrainner. E assim que ele esticou um dos braços para pegar uma taça de
vinho em seu pequeno e aconchegante bar, notei que possuía uma tatuagem na
parte interna, próximo à axila. Eu conhecia aquele símbolo, mas não me lembrava
de onde. E depois de alguns segundos olhando para aquela tatuagem, recordei-me
sobre qual era o seu significado.
Aquele era o símbolo de uma facção criminosa
muito conhecida, e ao perceber isso, senti um arrepio e angústia percorrer o
meu corpo.
Eu não tinha uma sensação tão angustiante há
muito tempo. Que eu me lembrasse, desde quando passara meus piores momentos,
ainda na minha infância e adolescência.
Juan, em passos lentos e contínuos, caminhou
em minha direção com um olhar fixo e sério pairando sobre mim. Meu corpo todo
sofreu um tremor e eu não fui nem um pouco discreta ao demonstrar o que estava
sentindo.
—Está com medo de mim? —indagou-me.
—Não! —respondi em tom firme, porém duvidoso.
Ele sorriu de canto, como se estivesse
satisfeito em presenciar meu desconforto e medo. Então, aproximou-se e ergueu o
braço em minha direção, oferecendo-me uma taça de vinho. Sem hesitar, peguei a
taça fitando-o nos olhos e aguardando a próxima coordenada que ele com certeza
me daria.
—Sente-se aqui! —indicou o local exato onde eu deveria me sentar —Antes de qualquer
coisa... Nada melhor do que uma boa conversa. —pronunciou, com um sorriso sarcástico em sua
face.
Conversa? Pensei. Aquilo era tudo o que eu
não esperava de Juan.
Então, continuei em silêncio, agarrada a
minha taça de vinho, que por sinal, era um vinho de ótima safra, porém com um
sabor um tanto diferenciado de tudo o que eu já havia provado.
—A. é o seu nome? Eu não me recordo de ninguém
que tenha uma vogal como nome. Gostaria de saber o seu verdadeiro nome, sem
rodeios. —indagou-me
com curiosidade.
Tal questionamento deixou-me com os pensamentos
confusos e instantes depois, senti um leve desconforto e uma tontura
indescritível.
—Eu não estou me sentindo muito bem... Vou ao banheiro.
Ele, sem dizer nenhuma palavra e ainda com os
olhos curiosos, consentiu com a cabeça e apenas apontou com seu dedo indicador
a direção do banheiro. Por que eu estava sentindo aquela vertigem, tão
subitamente? Eu não conseguia entender, pois havia ingerido até aquele momento,
apenas parte da taça de vinho e estava passando muito mal. De fato, ao menos
naquele instante eu não queria ser importunada. Eu precisava me recompor do mal
súbito.
Ainda no banheiro, joguei água em meu pescoço
e meus pulsos, a fim de que a sensação ruim e desconfortável fosse embora. Por
alguns minutos fechei meus olhos e respirei fundo. Ainda assim, pedi para que
alguma força superior ou divina fizesse com que aquele mal estar passasse e que
eu ficasse sã. Minutos depois, ainda observando meu rosto apático no espelho,
comecei a me sentir um pouco melhor. Todavia, o estremecimento persistia em meu
corpo.
—Tudo bem com você? Precisa de ajuda? —perguntou Juan do
outro lado da porta.
De imediato respondi:
—Já estou melhor e logo sairei. —falei, tentando parecer segura na resposta.
Minutos depois já estava fora do banheiro e
de volta àquele mesmo sofá de couro preto aonde Juan me conduziu minutos atrás.
Ele estava no bar, no canto da sala, preparando um novo copo de vinho.
—Beba mais um pouco... Esse vinho é importado, de ótima safra e só
o ofereço em ocasiões especiais. —advertiu, ainda me encarando com mais curiosidade. E novamente
seguiu em minha direção, entregando-me outra taça de vinho.
—Vamos lá... Eu lhe fiz uma pergunta e não obtive a resposta pela
qual esperava. Como eu já lhe disse uma vez, não sou homem de meias palavras e
gosto de saber com quem estou lidando. Então, perguntarei novamente, qual é o
seu nome? —bradoucom
seriedade inquisidora.
E naquele instante, tive a mesma vertigem,
porém muito mais intensa do que a anterior. O que estava acontecendo comigo? Eu
havia ingerido menos de duas doses de vinho! Era tudo muito estranho e
preocupante, pois estava habituada a tomar porreshoméricos.
Ainda em silêncio e com uma vertigem
horrenda, senti Juan retirar a taça de vinho da minha mão, colocando-a sobre
uma mesa de canto ainda na sala. E instantes depois retornou em minha direção e
segurou com força meus cabelos, levantando-me do sofá com brutalidade. Eu
conseguia sentir sua vibração negativa bem acima da minha nuca. E sem
delicadeza alguma, meus cabelos estavam envoltos entre seus dedos em um rabo de
cavalo. E assim, ele os puxou com tamanha força, que minha cabeça inclinou-se
violentamente para trás. E me encarando de perto, com os olhos em chamas,
bradou:
—Qual é o seu nome? É a última vez que pergunto isso e se eu souber
que você não me falou a verdade, certamente se arrependerá.
Naquele momento, no auge do medo e tendo um
flash de toda violência sofrida em minha vida, respondi:
—Alex! A-les-san-draTo-le-do. —pronunciei pausadamente.
Com um semblante satisfeito, segurou-me pelos
cabelos e estapeou-me com força no rosto, dizendo:
—Nunca mais ouse não responder quaisquer de minhas perguntas, sua
garota imbecil! —cuspia as palavras —Você pensa que eu não conheço mulheres da sua estirpe? Você é uma
vagabunda e eu já estou acostumado a lidar com mulheres assim. —falava com os olhos em
brasas.
Eu mal conseguia respirar, pois estava
petrificada de medo. Mesmo assim, com os olhos arregalados, escutei o que ele
ainda tinha a dizer:
—O negócio é o seguinte. Eu vou lhe foder do meu jeito! Do jeito
que eu gosto. E você? Ah, você vai ficar quietinha, sem falar uma palavra
sequer. —e
apontou seu dedo indicador contra meu rosto —Certamente você já deve estar acostumada com este tipode situação
e há males que vem para bem, pois lhe recompensarei à altura.
Meu mundo parou naquele momento e os flashes
de meu passado ficaram muito mais intensos. Onde eu havia me metido? Por que eu
não segui minha intuição e deixei tudo passar em branco como se eu não houvesse
comparecido àquele evento? Novamente, minha índole de menina má levou-me
para o lado obscuro. Um lado que eu não presenciava há um bom tempo. Um lado do
qual eu tinha pavor em apenas relembrar.
Ainda com as pernas bambas e vendo o mundo
girar ao meu redor, senti em meu subconsciente, como se estivesse correndo e
gritando. Por que fui tão teimosa? Por que como sempre achei que tinha controle
sobre a situação?
Eu pensava que, depois de tudo que havia
acontecido em minha vida, os meus momentos de terror, aquele cara lá de cima —o tal Deus —que por sinal eu não
conservava nenhuma crença em sua existência, me daria alguma trégua. Naquele
instante me veio em mente uma velha frase, conhecida por muitos, mas que eu não
me recordava da origem: Depois da
tempestade, vem a bonança. Mas, novamente eu me
enganei. A bonança não chegou e por um momento indaguei-me em pensamento —por que estou
passando por tudo isto novamente?
Eu nunca me esqueceria de minhas amargas
passagens de vida, e suplicava, para que nunca mais tivesse que passar por
aquilo. Em pequenos fragmentos, assistia aos flashes
de meus momentos de terror, ainda no passado,
quando aquele homem pelo qual eu cultivava verdadeiro repúdio e fui obrigada a
chamar de pai —Antônio César Toledo —me abusava.
Assim que retornei do torpor de sentimentos
que me envolvia, deparei-me com Juan segurando meus cabelos com força, me
machucando. Em seguida, fui empurrada de bruços contra o sofá de couro preto,
onde minutos atrás estava sentada degustandoum ótimo vinho.
O vinho! Ó, céus... Tudo fazia sentido. Provavelmente ele colocou algo em
minha bebida para que eu me sentisse vulnerável daquela maneira. Senti ódio de
mim mesma por ser tão ingênua.
—Gostosa e vagabunda, como eu aprecio! —sussurrou em meu
ouvido.
Ainda de bruços em cima do sofá, colocou-se
de frente para mim também de joelhos e com os olhos famintos de raiva e desejo.
Aquele olhar petrificou-me de medo e fez com que eu entrasse numa espécie de
adormecimento de sentidos. Suas mãos pousaram em minha face com certa
delicadeza, para logo depois, segurá-la com mais força. Chegando bem próximo aos meus lábios, mordiscou-os
com força descomunal, fazendo-me urrar de dor. Seus dedos nojentos desciam pelo
meu rosto, alcançando meus seios, apertando-os com brutalidade e rasgando minha
blusa ao mesmo tempo. Em seguida, voltou a acariciar minha face e estapeá-la
cruelmente.
—Vagabunda gostosa! Hoje você vai ter o que merece. —falou, degustando meu
pavor.
Lágrimas começaram a escorrer pela minha face
e em profundo devaneio, chegava a entrever em alguns momentos, a imagem de meu
pai postiço Toni,
fundida à imagem daquele intelectual horrendo chamado Juan. Nãooo...Eu gritava
internamente, em estado de completo horror.
Viver uma situação como aquela, era como ser
protagonista da continuação de um filme de terror. Meus piores pesadelos vinham
à tona e a única culpada de tudo, era eu.
Juan levantou-se e seguiu para o bar. Eu, sem
nada dizer e ainda trêmula, apenas observei seus passos, logo percebi que ele
estava pegando algo dentro de um dos baldes de gelo. Porém, não consegui
identificar o que era.
Ele retornou em minha direção, degustando meu
estado de pânico. Aproximou-se, e me levantou como havia feito minutos atrás.
Ainda apavorada, apenas obedecia a tudo o que ele ordenava sem questioná-lo.
Ele sorriu e logo abriu minha boca, inserindo dentro dela um comprimido. Sem pensar,
engoli o tal comprimido. Minutos depois, passei a sentir alguns sintomas dos
quais já era íntima, sendo eles: dilatação das pupilas, aumento da frequência
cardíaca e da pressão arterial, alucinações auditivase visuais, confusão
mental, pensamento desordenado, perda do controle emocional, dificuldade de
concentração, náuseas e euforia alternada com angústia.
Eu conhecia muito bem aqueles sintomas e
mesmo estando sobre o efeito deles, imaginava o que ele acabara de inserir em
minha boca.
—LSD, Alex! —pronunciou Juan.
Notei que ele também havia ingerido um
comprimido. Afinal, com quem eu estava lidando? Na verdade, eu já sabia a
resposta, pois estava lidando com um homem tão cruel quanto aquele com quem fui
obrigada a conviver por boa parte de minha vida.
Ainda confusa e sob o efeito daquele
entorpecente, senti Juan arrastando-me para outro cômodo do apartamento, que
por sinal, era o único quarto que havia naquele local.
—Por favor, Juan... Não! —supliquei—Novamente, ele agarrou-me com força pelos cabelos, forçando minha
cabeça para trás e disse:
—A brincadeira agora é a seguinte: tudo que o mestre mandar. E
adivinha quem é o mestre? —divertia-se com toda situação.
Meu coração disparou rumo ao inferno. E mesmo
sob o efeito do alucinógeno que usara por tantas vezes e que já era íntima,
naquele instante perdi o chão.
—O mestre manda a vagabunda gostosa calar a boca! —ordenava com tom
ameaçador, em seguida estapeou-me fazendo com que eu caísse sobre a cama —Piranha desgraçada!
Você gosta disso não é? —ele parecia estar incorporando um gênio mal.
Durante horas, vivenciei uma tortura da qual
eu era velha conhecida e que por algum tempo estava apagada da minha vida.
Lembrei-me da minha querida boneca She-rae também do meu amado amigo, e por alguns segundos, ainda em
pensamento, clamei por eles. Porém, como das outras vezes, não fui atendida.
Aquele ser desprezível me tocava das piores
formas possíveis, me ferindo interna e externamente. Eu enxergava à minha
frente, dois rostos em um só corpo —Toni e Juan —malditos!
—Está gostando sua cadela aproveitadora? Gosta de ser fodida com
força? —falou,
degustando meu pavor.
E, ao mesmo tempo em que ele me machucava com
todo o seu peso e toque brutal, também me golpeava com mais tapas, bofetões,
beliscões e mordidas por todo o corpo.
—Não se preocupe vadia! Depois lhe recompensarei para que você
compre maquiagem de boa qualidade e volte a ser esse rostinho e corpinho
bonitos. —falou
meticulosamente.
Maquiagem? Rostinho e corpinho bonitos? O que
ele estava falando? Meu corpo e minha mente eram pura agonia. Ainda naquela
situação, por um instante me veio à mente, o meu anjo amigo, de quem
eu não tinha notícias há tanto tempo. Max, ondeestá você? Me ajude, por
favor... Eu gritava em pensamento.
Contudo, Max não apareceu para me ajudar. E
assim, continuei por horas a fio, como vítima daquela terrível tortura, até que
Juan se cansou, e levantou-me pelos cabelos, arrastando-me pelo apartamento e
me deixando no chão da sala. E antes de seguirpara o quarto sozinho, disse:
—Não ouse sair daqui nessa situação! Se você fizer isso, sofrerá as
consequências. —ameaçou.
Eu sabia que o mais sensato a se fazer era
não contrariá-lo, pois havia percebido o quanto ele era perigoso.
Deitada no chão da sala, nua, machucada e
dopada, fechei meus olhos e pedi para que tudo acabasse logo, da mesma maneira
que eu clamava, quando passava pela mesma situação com Toni. E antes mesmo de
amanhecer, pude ouvir os passos de Juan adentrando a sala, sustentando um copo
d’água em uma das mãos, e, com a outra posicionou-me sentada no sofá de couro
preto.
—Vou ser breve com você, cadela! Tenho uma família que amo e em
hipótese alguma quero magoá-los. Portanto, vou ficar de olho e se você pensar
em fazer alguma gracinha pagará caro por isso. —e então, jogou o copo d’água em meu rosto —Fiquena sua! Eu irei
ao seu encontro muito em breve e quando isso acontecer... Espero que seja
obediente. Vista-se e desça até a garagem, pois tem um carro aguardando-a para
levá-la embora. Eu sei onde você mora e sigo todos seus passos a partir de
agora.Portanto, seja uma garota esperta. —disse, apontando seu dedo indicador sobre minha face.
Eu apenas escutei o que ele tinha a dizer,
sem questionar.
Juan seguiu para o quarto, nos mesmos passos
lentos e contínuos, como os de um alucinado. Levantei-me atordoada, vesti
somente minha calça, o sobretudo e meu scarpin que ainda se encontravam no
canto da sala. Rumo à minha casa tive a certezade que estava de volta ao inferno.
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**Os livros em formato físico (publicação
independente) esgotaram-se; ele não está mais a venda em formato ebook.
Contudo, estou procurando uma casa editorial para uma nova publicação em 2017. Aguardem!
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