Entrevista com Danie Ferreira - O Terror em forma de arte com pena e nanquim

Olá meus amigos, hoje é um dia bem festivo, famoso e obscuro o "Dia das Bruxas". Esse ano, resolvemos fazer algo diferente, trouxemos leituras e dicas de histórias de terror para aqueles leitores, que assim como eu, tem um fraco por esse mundo macabro. E eu, por minha vez acabei me apaixonando (já amava loucamente O CORVO, então apresenta-los a vocês, nesse mês de outubro foi nostalgia e amor). Entretanto, o dia ainda está só começando e quero começar esse sábado falando de algo e de alguém muito especial para mim, a Danie Ferreira, uma super artista que se tornou para mim, muito mais que um ídolo, se tornou uma grande amiga. Depois de cinco longos anos, tomei coragem de conversar com a Danie e me surpreendi e me encantei ainda mais. Hoje vamos conhecer seu fabuloso trabalho, seus famosos desenhos artísticos com pena e nanquim e claro tudo isso tendo como base o TERROR. Antes de começar, quero agradecer por esse momento especial com essa super mulher.  Amiga, sua arte é feita com alma e como tal, merecer ser divulgada com amor e respeito! Sucesso na sua caminhada. 

“O Terror em forma de arte com pena e nanquim”

Por Danie Ferreira, para o Diário de uma Contadora de História. @Diario_Ch

1-   Quando iniciou a sua arte de desenhar?

Eu desenho desde os 13 anos. O interesse pela arte surgiu como pura diversão. Nunca havia passado pela minha cabeça que a arte faria parte da minha vida com tamanha grandiosidade. Isso mudou nos últimos tempos: devido ao meu constante interesse por literatura e cinema de terror, sempre busquei mais contato com exposições, museus, teatro e fotografia; assim, entro de cabeça no mundo das artes, o que me levou a conhecer com mais detalhes técnicas artísticas, e, dentre estas, me encontrei meu estilo próprio com a pena e com o nanquim. Este é o diferencial do meu trabalho: todas as minhas artes são feitas com o que chamamos de bico de pena ou pena e nanquim. 

2- Porque você escolheu uma das tintas mais antigas do mundo para seu trabalho, o Nanquim?

Vou explicar um pouco sobre como funciona essa técnica e como isso afeta a sua identidade artística para que vocês do Diario_Ch e os leitores conheçam mais sobre a técnica:

“O nanquim é uma tinta que possui um poder de adesão muito forte, permanente, difícil de ser retirada após sua aplicação. A tinta, além de penetrar consideravelmente na fibra do papel, possui grande resistência a luz e ao clima fazendo com que a arte tenha durabilidade e sobreviva ao longo dos anos. Desenhar com pena e tinta tem todo um diferencial porque envolve muita técnica. É necessário ter muita atenção e a mão firme. Também tem o processo de secagem, a espera para continuar a arte caso tenha um fundo ou esperar secar uma cor para usar outra. Há diferentes tamanhos e espessuras dos bicos das penas.  Com a pena, o traço fica mais fluido e a variação de pressão com que eu desenho resulta em linhas de várias espessuras, o que chamamos de hachuras. Faz mais ou menos uns 6 anos que eu comecei a me interessar pela pena e pelo nanquim. E foi através do uso desses materiais que encontrei minha identidade artística. Eu faço qualquer tipo de arte porque a arte é ilimitada e nenhum artista deve ser limitado. Estamos sempre num processo eterno de desconstrução e construção e aprendizagem. Mas foi com a pena que eu me encontrei e encontrei meu estilo e identidade artística.”

3-   Sempre achei a pena um símbolo aristocrático e sombrio, me faz lembrar de histórias antigas de terror e vampiros, por esse motivo você sempre teve como base essa licença poética, o terror?  E houve algum motivo especial ou obscuro para usar a pena?

Eu sempre gostei de terror desde criança. Literatura e filmes. Meu avô me levou ao cinema para assistir meu primeiro filme de terror aos 8 anos de idade. E com essa mesma idade, eu ganhei meu primeiro livro do Stephen King. Edgar Allan Poe, Howard Phillip Lovecraft, Mary Shelley entre outros usavam a pena e o nanquim que era a caneta da época, digamos assim para escrever e para desenhar. Sempre achei lindo, poético, atemporal. Não tive um motivo especial para usar a pena, foi mais por curiosidade, pelo encanto em tentar escrever. Depois eu tentei desenhar e deu mais certo do que a escrita, e ai eu me apaixonei.

4-  Além da Pena e do Nanquim, você utiliza outros meios para desenhar?

Sim, eu desenho com Aquarela, com tinta acrílica, tinta a óleo, grafite, carvão, giz pastel seco e oleoso, uso uma infinidades de outros materiais para obter outras técnicas. Como eu sempre digo, a desconstrução e construção de um artista não pode fazer dele um ser limitado. A Arte é muito ampla, é possível aprender e se interessar por tudo um pouco e nunca vamos nos achar bons suficientes dentro de nenhum estilo por melhor que seja a execução da arte. Por isso, na arte tem espaço para todos e nunca, jamais ninguém saberá tudo.

5-   Em nossas pesquisas percebemos que sua arte é uma das mais difíceis de ser executada, antes de começar qualquer desenho, você tem algum preparo ou ritual?

Sim, acho que todo artista tem uma espécie de ritual. Eu acordo muito cedo, então antes de iniciar os trabalhos, eu gosto de ver algum ep de alguma série, ou um filme que serve também como laboratório para algumas encomendas as quais eu não conheça a fundo a história ou o personagem. Eu sou muito perfeccionista e me cobro bastante, então eu tenho que arrumar toda a mesa, colocar cada coisa em seu devido lugar, dar um play em alguma música para deixar o ambiente mais agradável, limpo todas as penas e os pinceis, faço um chá e ai começo a trabalhar. A inspiração vem até de um estado de espirito. Para muitos, a alegria e para mim e tantos outros, não necessariamente a tristeza, até porque, não vejo a tristeza como um sentimento negativo, mas o silencio, a introspecção, um momento de contemplação ou até mesmo um estado que a música pode causa na hora, a cena de um filme ou a escrita de algum livro. Tudo isso é importante para a criação da minha arte.

6- Nosso IG/Blog é voltado para o meio literário e já percebemos que você possui grandes influências desse meio, responda para nós quais livros e autores te influenciam?

É mais fácil citar autores do que livros, do contrário, eu poderia ficar horas citando aqui livros e tal. Os autores que mais me influenciam são: Stephen King, Edgar Allan Poe, HP Lovecraft, Baudelaire, Mary Shelley, Anne Rice, Tolstoi, Virginia Woolf, Dostoiévski, Shakeaspeare, Tolkien, Thomas Harris, George Martin, Florbela Espanca, Goethe, Larissa Prado, Chuck Palahniuk, Charles Dickens, Jane Austen entre outros.

7- Também somos ligados ao mundo geek, filmes, jogos, animes e músicas, dentre esses universos, quais são seus gostos? Algum desses seguimentos te inspira em sua arte?

Sim! Não desenho sem música, por exemplo. Os filmes me influenciam demais, muitas das minhas artes são referentes a personagens icônicos do terror, de outros filmes, de algumas cenas marcantes de clássicos cinematográficos. Também já fiz diversas artes referente a autores literários, que me inspiram e inspira meu público. Sobre o universo geek, eu desenho algumas coisas, e gosto de muitas coisas também. Jogos eu comecei a ter pedidos recentes, mas confesso que não faz parte do meu universo artístico. 

8- Eu já tive a honra de visualizar alguns de seus lindos desenhos, existe algum desenho especial para você?

Olha, todas as minhas artes são especiais para mim de alguma maneira. Acho que existe pontos altos de um artista, vou citar dois deles que tem acontecido muito comigo e é uma honra: O primeiro, é quando o próprio artista se emociona com uma criação sua, e o segundo é quando eu consigo emocionar as pessoas e tocá-las de alguma forma com a minha arte. Isso é muito especial e impactante para mim.

9- Todas as suas obras devem ter sua dificuldade, mas existe alguma que foi muito difícil de expressar?

Acho que difícil é não ter inspiração quando se tem a arte como trabalho. Uma coisa que não funciona para artista nenhum são as cobranças. Não somos uma máquina de cópias, somos artistas e executar qualquer arte com pena e nanquim tem todo um processo. Eu uso várias espessuras de ponta numa mesma arte, mais de uma cor de nanquim, tem o processo de secagem. É trabalhoso. É fácil olhar e pensar: “é só um papel com tinta”. Mas é muito, muito mais do que isso. Tem todo um estudo para entender o que eu estou desenhando, minha cabeça está totalmente voltada para a pessoa que pediu a arte, eu tenho que entender a ideia dela para visualizar isso na minha cabeça e passar para o papel. Eu não entrego qualquer coisa. Eu quero que as pessoas se sintam felizes.

10-Você foi a minha musa inspiradora em estilo e moda, mulheres fortes como você devem ser valorizadas todos os dias, até hoje nunca vi nada igual a sua arte, como é ser artista no seu estilo hoje em dia?

Primeiramente, é uma honra ser inspiração para você. Muito obrigada. E sim, eu também acho que toda mulher deve ser valorizada. Não só pelo trabalho que executa, mas pelo simples fato de ser mulher. Ser artista no meu estilo é incrível, eu amo muito o que faço e como faço. E a cada dia, com muito estudo, meu traço evolui mais e eu tenho conquista mais e mais o meu espaço dentro desse estilo. É maravilhoso.

11- Para os artistas que estão começando agora, que dica você pode deixar para eles?

Eu acredito que no início é muito importante que as pessoas que escolhem trilhar os caminhos para as artes, se identifiquem, conheçam sobre alguma escola artística e conheçam, estudem, pesquisem sobre algum artista que possa influenciá-los. É difícil começar a desenhar sem referências, sem artistas que possa nos inspirar. Acho que isso é até uma busca para que em meio aos processos, possamos entender e encontrar o nosso estilo. Eu acabei desenvolvendo meu e me encontrando no blackwork. Aí comecei a usar o vermelho como marca da minha arte.  Sobre a pena e o nanquim, essa é uma técnica difícil de executar e exige muito estudo, mãos firmes, persistência e acima de tudo, paciência pois existe muitos processos para a execução de uma arte nesse estilo. É legal para quem tem interesse em aprender ou sem seguir com pena e nanquim que estude muito, faça muitas sketches, muitas tentativas com traços e não tenha pressa para desenvolver por exemplo, técnicas como as hachuras e o pontilhismo. A única e real forma de aprender a desenhar é estudo e treino. Não tem segredo ou mágica.

12-Sabemos que você também faz seus lindos desenhos em marcadores de página, para os leitores que querem adquirir a sua obra, onde podem encontrar?

Eu tenho uma lojinha online onde coloco a venda minhas artes e onde as pessoas podem pedir orçamentos, fazer agendamentos e conhecer mais do meu trabalho. É no @creepyecuteart

 13-E para finalizar, deixe para nós uma mensagem para os Dias Das Bruxas, uma frase ou livro, um poema, utilize essa pergunta para nos inspirar ainda mais.

Todos os dias deveriam ser Halloween. Ao invés de deixar uma frase ou um poema, vou deixar uma arte especial para essa data:

Eu só tenho a agradecer a Danie por essa entrevista fabulosa e claro eu amo todos o desenhos dessa mulher, o Corvo tanto o quadrinho, o filme, como a ave e o poema são nossos amores incomum,  por esse motivo quero finalizar essa declaração de amor, a minha amiga mostrando a arte que mais me emocionou esse mês, e um pequeno trecho do poema de Edgar Alan Poe - O Corvo e dizer a todos FELIZ DIA DAS BRUXAS! 

"Eu estava triste, mas sorri, vendo o meu hóspede noturno

tão gravemente repousado, hirto, solene e taciturno.

"Sem crista, embora" - ponderei -, "embora ancião dos teus iguais, não és medroso, ó Corvo hediondo, ó filho errante de Plutão! Que nobre nome é acaso o teu, no escuro império de Plutão?"

E o Corvo disse: "Nunca mais!"

"Fiquei surpreso - pois que nunca imaginei fosse possível

ouvir de um Corvo tal resposta, embora incerta, incompreensível, e creio bem, em tempo algum, em noite alguma, entes mortais viram um pássaro adejar, voando por cima de uma porta, e declarar (do alto de um busto, erguido acima de uma porta)

que se chamava "Nunca mais".